domingo, 30 de dezembro de 2012

Aprender chinês vale a pena?

Algumas pessoas, sobretudo universitários, encaram sua formação como investimento e armam uma estratégia, quase que militar, para pautar sua vida profissional.
A fim de obter melhores posições no mercado de trabalho, essas pessoas procuram antecipar alguns acontecimentos visando assim desenvolver habilidades que serão bastante demandadas no futuro.
Quem nunca ouviu falar, num passado remoto, daqueles que queriam fazer Processamento de Dados? Hoje muitos enxergam carreiras de engenharia do petróleo como áreas de carreiras promissoras.
Diante disso, invariavelmente, alunos e executivos argumentam que, devido à China ser uma forte candidata a se tornar a maior potência mundial do futuro, aprender mandarim é uma das melhores aquisições que um executivo pode fazer.
Nas grandes capitais brasileiras, sobretudo São Paulo, há uma oferta enorme de cursos de mandarim e a procura cresce a cada dia.
Afinal, aprender mandarim vale a pena do ponto de vista profissional?
No nosso entendimento, essa estratégia militar de antecipar o futuro e direcionar o aprendizado ao mandarim pode ser bastante discutível e provavelmente vai ter uma utilidade profissional próxima de zero.
Vamos aos fatos:
1- As pessoas tendem a superestimar o crescimento da China, muitos acreditam que ele se perpetuará. Vale lembrar que assim como as empresas, os países conseguem crescer a taxas altas por um tempo, mas não sempre.
Se o Brasil, por exemplo, crescesse as taxas que cresceu no período do Milagre econômico, hoje seria a maior economia do mundo, e com uma grande diferença para o segundo colocado.
Investimentos e capacidade de crescimento têm limites. Grande parte do crescimento chinês é devido ao seu investimento de 40% do PIB (no Brasil essa taxa gira em torno de 20%). A questão é saber se a China vai conseguir manter esse crescimento quando o seu investimento reduzir, dado que a China apresenta um mercado interno fraco evidenciado pelo seu pequeno PIB per capita.
Como exemplo, pode-se citar que, com a crise europeia, a China já vem apresentando taxas menores de crescimento em virtude da redução da demanda mundial causando impacto diretos na demanda por seus produtos.
2- As pessoas que tendem a superestimar a economia chinesa também tendem a subestimar o poder dos Estados Unidos. Não subestime os EUA, eles já provaram em 1929, e recentemente em 2008 a força do seu país e a robustez de sua economia. Ou seja, acreditar que a China vai ser a maior potência mundial e os EUA vão ser colocado em segundo plano, o que quer dizer que o inglês deixaria de ser a língua mais importante do mundo, é subestimar os americanos.
3- Não é a primeira vez que a China é vista com potencial para se tornar uma das maiores economias do mundo. Eles já esteviram na vanguarda do mundo e nunca se consolidou como poder supremo. Estamos esquecendo que , no século X, os chineses descobriram a pólvora demonstrando o seu poder. Mil anos depois, este país que, embora seja a segunda maior economia do mundo, ainda apresenta elevados índices de pobreza.
4- Um idioma não é falado apenas porque a nação é a mais rica de todas, mas também por diversos outros fatores. Por exemplo, a produção de conhecimento que um país gera é um fator determinante. Os EUA, sem sombra de dúvida, conta com as melhores universidades do mundo, capturam os melhores pesquisadores de todas as partes e, sobretudo, produzem a maior quantidade de artigos científicos e geração de conhecimento. Além disso, todos artigos e pesquisas são feitos em inglês, inclusive aqueles realizados fora dos EUA.
5- Por último, mas não menos importante, é o número de países que falam o idioma. Isso vale quando falamos de comércio e transações internacionais, enquanto o mandarim é a língua oficial da China e outros cinco países, o inglês é falado em 54 países. Mesmo na China, há inúmeras regiões em que o mandarim não é o primeiro idioma, há o cantonês, sichuanês, hakka, só para citar algumas...
Países que falam Inglês vs Países que falam Mandarim como primeira ou segunda língua
O mapa mundo acima mostra em vermelho , os países em que a primeira linha é o Chinês e , em azul, aqueles países em que a primeira língua é o Inglês.
O que dissemos aqui nada mais foi que: a China não vai se tornar a principal potência do globo, pelo menos não nos próximos 10 anos. O que se traduz em: aprender mandarim achando que essa vai ser a principal língua mundial pode ser um erro. Caso esses argumentos ainda não tenham convencido de que aprender chinês pode ser um mau investimento, temos que lembrar de uma coisa: os executivos internacionais chineses falam inglês!
Post em Parceria com Leonardo de Siqueira Lima que é graduando em Economia pela EESP.
 

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