segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Besta Ressurreta

Por Frank Brito 

“A besta que era e já não é, é também um oitavo, e é dos sete, e vai-se para a perdição”. (Apocalipse 17.11)
Já identificamos as sete cabeças como sendo os sete primeiros imperadores de Roma. No capítulo 13, a ênfase da visão é Nero – a sexta cabeça da besta. Já no capítulo 17, a ênfase é um misterioso “oitavo”. Apesar de a visão descrever a besta como tendo sete cabeças, ele se refere também a um “oitavo” (Ap 17.11). Mas se há um oitavo, por qual motivo a besta é descrita como tendo sete cabeças e não oito?
Pra começar a compreender, temos que refletir no que já havia dito sobre a ferida de morte da besta. “Também vi uma de suas cabeças como se fora ferida de morte, mas a sua ferida mortal foi curada”. (Ap 13:3). Isso deve ser entendido como uma imitação da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Não é a morte e ressurreição literal de um indivíduo, mas é uma descrição figurada do rápido colapso e restauração que o Império Romano sofreu no primeiro século. Assim como Jesus Cristo foi ferido de morte, mas ressuscitou, o Império tentaria se mostrar invencível ao se recuperar repentinamente após uma queda dramática.
Muitos comentaristas modernos acreditam que o verso seja uma referência a um anticristo futuro que irá literalmente morrer e ressuscitar. Essa não é uma interpretação possível porque a ressurreição de Cristo foi uma demonstração de sua completa soberania e vitória sobre a morte (cf. I Co 15). O Diabo e o anticristo não vencem a morte e nem tem qualquer poder sobre ela. Portanto o milagre da ressurreição não pode ser operado por eles. Além disso, o Apóstolo João deixa claro que é um erro entender o Anticristo como um líder mundial futuro: “Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo”. (II Jo 1.7) Além disso, o Apocalipse deixa claro que a besta já estava em atividade quando o livro foi escrito.
A ferida mortal da besta aconteceu no dia 9 de Junho de 68 quando o Imperador Nero cometeu suicídio com uma espada no pescoço. Isso trouxe consequências desastrosas ao Império e fez com que ele quase entrasse em colapso. Primeiro, a morte de Nero marcou o fim da dinastia Julio-Claudiana. A linhagem que deu origem, estabilizou, trouxe prosperidade e recebeu adoração do Império simplesmente chegou ao fim. Quando Nero suicidou, foram demolidas as bases que garantia toda a estabilidade do Império. Catástrofes após catástrofes começaram a acontecer. Imediatamente, o Império Romano foi entregue a terríveis guerras civis e outros horrores. O Império quase deixou de existir. O historiador romano Tacito resumiu bem a situação:
“A história que eu estou prestes a contar é sobre um período rico em desastres, com terríveis batalhas, dominado por lutas civis, horrível mesmo em meio à paz. Quatro imperadores caíram a espada, aconteceram três guerras civis, mais guerras no estrangeiro e às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. Houve sucesso no oriente e infortuno no ocidente. Ilírico estava perturbada, as províncias gálicas vacilaram, a Bretanha foi subjugada e imediatamente liberta. Os samartianos e suevos insurgiram contra nós; os dácios ganharam fama pelas derrotas inflingidas e sofridas; até os parteseanos foram quase foram induzidos a lutar pelo engano de alguém fingindo ser Nero. Além disso, a Itália estava angustiada por desastres anteriormente desconhecidos ou voltando a acontecer depois de muitas eras. Cidades dos ricos litorais da Campania foram engolidos… Romas estava devastada por conflagrações na qual seus santuários mais antigos e a própria capital incendiada pelas mãos dos cidadãos. Ritos sagrados eram profanados; havia adúlteros nos lugares altos, o mar estava cheios de cadáveres e seus penhascos estavam imundos com o corpo dos mortos… Além das muitas desgraças que caiu sobre a humanidade, aconteceram prodígios no céu e na terra, avisos dados por relâmpagos e profecias do futuro, algumas alegres e outras sombrias, incertas e obscuras. Por nunca foi tão plenamente comprovado por terríveis desastres do povo romano ou por sinais indubitáveis que os deuses não se importam com nossa segurança, mas nosso castigo… para o estado romano foi quase o fim”.(Tacitus, Histories, 1:2-3,11).
O ano de 69 A.D. é conhecido como o ano dos quatro imperadores. O motivo é que, em meio ao caos, Roma testemunhou quatro imperadores diferentes no poder em um só ano: Galba, Otão e Vitélio e finalmente a ascensão de Vespasiano, fundador da dinastia flaviana. Galba era a sétima cabeça da besta. Foi o imperador que sucedeu Nero. Segundo o anjo, ele permaneceria por pouco tempo no poder: “… o outro ainda não é vindo; e quando vier, deve permanecer pouco tempo”. (Ap 17.10) Isso se cumpriu com exatidão na pessoa de Galba. Ele foi Imperador por somente sete meses – do dia 8 de Junho de 68 até o dia 15 de Janeiro de 69 – sendo sucedido por Otão. Apesar disso, Otão não deve ser identificado como sendo o misterioso “oitavo” (Ap 17.11).
A besta sendo descrita como tendo sete cabeças aponta para a divinização da besta. Devemos lembrar que a numerologia tem um papel importante tanto no Apocalipse quanto na Bíblia como um todo. O número seis, por exemplo, está associado à humanidade. O homem foi criado no sexto dia. O número da besta – 666 – aponta para o humanismo, o antropocentrismo, a divinização do homem, sua exaltação como o centro e medida de todas as coisas, suficiente em si mesmo, o salvador de si mesmo. Já o número sete aponta para o conceito de plenitude, consumação. É fortemente associado com Deus. Foi no sétimo dia que Deus “descansou” na consumação da criação do universo. O número oito, por sua vez, aponta para o conceito de vida e ressurreição. Jesus ressuscitou no Domingo, o oitavo dia – o Dia do Senhor. Sendo ferida exatamente na sexta cabeça – Nero César – a besta nunca alcança a nunca consegue alcançar a divinização humana verdadeira. A sétima cabeça não é a consumação da glória e divindade do Império, mas é a sua queda, é o Império decante e morto sob o governo de Galba. Já o oitavo não é um sucessor imediato do sétimo. Este é o motivo pelo qual ele não é contado inicialmente entre as cabeças da besta. Os sete primeiros são sucessores imediatos uns dos outros: Júlio César, Augusto, Tibério, Calígula, Claudio, Nero e Galba. Júlio César marca o estabelecimento do Império enquanto Galba marca a sua entrada em ruína e decadência. O oitavo foi Tito Flávio Sabino Vespasiano, pois foi ele quem vivificou o Império de sua ruína e decadência. Por isso ele é associado ao número oito, o número da ressurreição.
Vespasiano fundou a dinastia Flaviana, sendo ele o responsável pela estabilização do Império Romano após o período de ruína. Destaca-se o programa de reformas financeiras tão necessárias após a queda da Dinastia Julio-Claudiana, a sua bem-sucedida campanha na Judeia e os seus ambiciosos projetos de construção como o Anfiteatro Flávio, conhecido popularmente como o Coliseu Romano. Também reformulou o senado e a Ordem Eqüestre e desenvolveu um sistema educativo mais amplo. Por isso diz: “… a sua ferida mortal foi curada e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta”. (Ap 13.3) Foi sob Vespasiano que Jerusalém – a grande prostituta – foi destruída.
A visão fala também dos dez chifres da besta: “Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam o reino, mas receberão autoridade, como reis, por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta”. (Ap 17.12-13) O anjo explica que os dez chifres devem ser entendidas como autoridades políticas. Ele explica também que eles seriam os agentes para colocar Vespasiano no poder. Se a besta era o Império Romano e as cabeças os imperadores, então o número dez parece apontar para as províncias senatoriais. O Império Romano não era governado pelo imperador de maneira independente. Seu poder era dividido com o senado. O Império era divido em províncias. As províncias poderiam ser imperiais e províncias senatoriais. As imperiais eram governadas pelo imperador. As senatoriais eram governadas pelo senado por meio dos procônsuls. Havia dez províncias senatoriais e um procônsul responsável por cada província. As províncias senatoriais eram: Acaia, África, Ásia, Chipre, Cirenaica, Gália Narbonense, Hispânia Bética, Macedônia, Ponto e Sicília.
Por isso a besta tinha dez chifres. Os dez chifres era o poder do senado que governava o Império juntamente com o imperador. Mas o texto diz que eram “dez reis, os quais ainda não receberam o reino, mas receberão autoridade” (Ap 17.12). O motivo disso é que a visão aconteceu no tempo de Nero, alguns anos antes da ascensão de Vespasiano. A duração do governo de cada procônsul era de um ano. Os procônsuls que governariam com Vespasiano ainda não tinham assumido o poder. E seriam estes que atacariam Jerusalém sob a autoridade de Vespasiano:
“E os dez chifres que viste, e a besta, estes odiarão a prostituta e a tornarão desolada e nua, e comerão as suas carnes, e a queimarão no fogo”. (Apocalipse 17.16)

Fonte: www.resistireconstruir.wordpress.com

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