Por
Frank Brito
“A besta que era e já não é, é também
um oitavo, e é dos sete, e vai-se para a perdição”.
(Apocalipse 17.11)
Já identificamos as sete cabeças como sendo os sete primeiros
imperadores de Roma. No capítulo 13, a ênfase da visão é Nero – a
sexta cabeça da besta. Já no capítulo 17, a ênfase é um
misterioso “oitavo”. Apesar de a visão descrever a besta
como tendo sete cabeças, ele se refere também a um “oitavo” (Ap
17.11). Mas se há um oitavo, por qual motivo a besta é descrita
como tendo sete cabeças e não oito?
Pra começar a compreender, temos que refletir no que já havia
dito sobre a ferida de morte da besta. “Também vi uma de suas
cabeças como se fora ferida de morte, mas a sua ferida mortal foi
curada”. (Ap 13:3). Isso deve ser entendido como uma imitação
da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Não é a
morte e ressurreição literal de um indivíduo, mas é uma
descrição figurada do rápido colapso e restauração
que o Império Romano sofreu no primeiro século. Assim como
Jesus Cristo foi ferido de morte, mas ressuscitou, o Império tentaria
se mostrar invencível ao se recuperar repentinamente após
uma queda dramática.
Muitos comentaristas modernos
acreditam que o verso seja uma referência
a um anticristo futuro que irá literalmente morrer e ressuscitar.
Essa não é uma interpretação possível
porque a ressurreição de Cristo foi uma demonstração
de sua completa soberania e vitória sobre a morte (cf. I Co 15).
O Diabo e o anticristo não vencem a morte e nem tem qualquer poder
sobre ela. Portanto o milagre da ressurreição não
pode ser operado por eles. Além disso, o Apóstolo João
deixa claro que é um erro entender o Anticristo como um líder
mundial futuro: “Porque já muitos enganadores entraram no
mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este
tal é o enganador e o anticristo”. (II Jo 1.7) Além
disso, o Apocalipse deixa claro que a besta já estava em atividade
quando o livro foi escrito.
A ferida mortal da besta aconteceu
no dia 9 de Junho de 68 quando o Imperador Nero cometeu suicídio com uma espada no pescoço. Isso trouxe
consequências desastrosas ao Império e fez com que ele quase
entrasse em colapso. Primeiro, a morte de Nero marcou o fim da dinastia
Julio-Claudiana. A linhagem que deu origem, estabilizou, trouxe prosperidade
e recebeu adoração do Império simplesmente chegou
ao fim. Quando Nero suicidou, foram demolidas as bases que garantia toda
a estabilidade do Império. Catástrofes após catástrofes
começaram a acontecer. Imediatamente, o Império Romano foi
entregue a terríveis guerras civis e outros horrores. O Império
quase deixou de existir. O historiador romano Tacito resumiu bem a situação:
“A história que eu estou prestes a contar é sobre
um período rico em desastres, com terríveis batalhas, dominado
por lutas civis, horrível mesmo em meio à paz. Quatro imperadores
caíram a espada, aconteceram três guerras civis, mais guerras
no estrangeiro e às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. Houve sucesso
no oriente e infortuno no ocidente. Ilírico estava perturbada, as
províncias gálicas vacilaram, a Bretanha foi subjugada e
imediatamente liberta. Os samartianos e suevos insurgiram contra nós;
os dácios ganharam fama pelas derrotas inflingidas e sofridas; até os
parteseanos foram quase foram induzidos a lutar pelo engano de alguém
fingindo ser Nero. Além disso, a Itália estava angustiada
por desastres anteriormente desconhecidos ou voltando a acontecer depois
de muitas eras. Cidades dos ricos litorais da Campania foram engolidos… Romas
estava devastada por conflagrações na qual seus santuários
mais antigos e a própria capital incendiada pelas mãos dos
cidadãos. Ritos sagrados eram profanados; havia adúlteros
nos lugares altos, o mar estava cheios de cadáveres e seus penhascos
estavam imundos com o corpo dos mortos… Além das muitas desgraças
que caiu sobre a humanidade, aconteceram prodígios no céu
e na terra, avisos dados por relâmpagos e profecias do futuro, algumas
alegres e outras sombrias, incertas e obscuras. Por nunca foi tão
plenamente comprovado por terríveis desastres do povo romano ou
por sinais indubitáveis que os deuses não se importam com
nossa segurança, mas nosso castigo… para o estado romano foi
quase o fim”.(Tacitus, Histories, 1:2-3,11).
O ano de 69 A.D. é conhecido como o ano dos quatro imperadores.
O motivo é que, em meio ao caos, Roma testemunhou quatro imperadores
diferentes no poder em um só ano: Galba, Otão e Vitélio
e finalmente a ascensão de Vespasiano, fundador da dinastia flaviana.
Galba era a sétima cabeça da besta. Foi o imperador que sucedeu
Nero. Segundo o anjo, ele permaneceria por pouco tempo no poder: “… o
outro ainda não é vindo; e quando vier, deve permanecer pouco
tempo”. (Ap 17.10) Isso se cumpriu com exatidão na pessoa
de Galba. Ele foi Imperador por somente sete meses – do dia 8 de
Junho de 68 até o dia 15 de Janeiro de 69 – sendo sucedido
por Otão. Apesar disso, Otão não deve ser identificado
como sendo o misterioso “oitavo” (Ap 17.11).
A besta sendo descrita como
tendo sete cabeças aponta para a divinização
da besta. Devemos lembrar que a numerologia tem um papel importante tanto
no Apocalipse quanto na Bíblia como um todo. O número seis,
por exemplo, está associado à humanidade. O homem foi criado
no sexto dia. O número da besta – 666 – aponta para
o humanismo, o antropocentrismo, a divinização do homem,
sua exaltação como o centro e medida de todas as coisas,
suficiente em si mesmo, o salvador de si mesmo. Já o número
sete aponta para o conceito de plenitude, consumação. É fortemente
associado com Deus. Foi no sétimo dia que Deus “descansou” na
consumação da criação do universo. O número
oito, por sua vez, aponta para o conceito de vida e ressurreição.
Jesus ressuscitou no Domingo, o oitavo dia – o Dia do Senhor. Sendo
ferida exatamente na sexta cabeça – Nero César – a
besta nunca alcança a nunca consegue alcançar a divinização
humana verdadeira. A sétima cabeça não é a
consumação da glória e divindade do Império,
mas é a sua queda, é o Império decante e morto sob
o governo de Galba. Já o oitavo não é um sucessor
imediato do sétimo. Este é o motivo pelo qual ele não é contado
inicialmente entre as cabeças da besta. Os sete primeiros são
sucessores imediatos uns dos outros: Júlio César, Augusto,
Tibério, Calígula, Claudio, Nero e Galba. Júlio César
marca o estabelecimento do Império enquanto Galba marca a sua entrada
em ruína e decadência. O oitavo foi Tito Flávio Sabino
Vespasiano, pois foi ele quem vivificou o Império de sua ruína
e decadência. Por isso ele é associado ao número oito,
o número da ressurreição.
Vespasiano fundou a dinastia
Flaviana, sendo ele o responsável
pela estabilização do Império Romano após o
período de ruína. Destaca-se o programa de reformas financeiras
tão necessárias após a queda da Dinastia Julio-Claudiana,
a sua bem-sucedida campanha na Judeia e os seus ambiciosos projetos de
construção como o Anfiteatro Flávio, conhecido popularmente
como o Coliseu Romano. Também reformulou o senado e a Ordem Eqüestre
e desenvolveu um sistema educativo mais amplo. Por isso diz: “… a
sua ferida mortal foi curada e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta”.
(Ap 13.3) Foi sob Vespasiano que Jerusalém – a grande prostituta – foi
destruída.
A visão fala também dos dez chifres da besta: “Os
dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam
o reino, mas receberão autoridade, como reis, por uma hora, juntamente
com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu
poder e autoridade à besta”. (Ap 17.12-13) O anjo explica
que os dez chifres devem ser entendidas como autoridades políticas.
Ele explica também que eles seriam os agentes para colocar Vespasiano
no poder. Se a besta era o Império Romano e as cabeças os
imperadores, então o número dez parece apontar para as províncias
senatoriais. O Império Romano não era governado pelo imperador
de maneira independente. Seu poder era dividido com o senado. O Império
era divido em províncias. As províncias poderiam ser imperiais
e províncias senatoriais. As imperiais eram governadas pelo imperador.
As senatoriais eram governadas pelo senado por meio dos procônsuls.
Havia dez províncias senatoriais e um procônsul responsável
por cada província. As províncias senatoriais eram: Acaia, África, Ásia,
Chipre, Cirenaica, Gália Narbonense, Hispânia Bética,
Macedônia, Ponto e Sicília.
Por isso a besta tinha dez chifres.
Os dez chifres era o poder do senado que governava o Império juntamente com o imperador. Mas o texto
diz que eram “dez reis, os quais ainda não receberam o reino,
mas receberão autoridade” (Ap 17.12). O motivo disso é que
a visão aconteceu no tempo de Nero, alguns anos antes da ascensão
de Vespasiano. A duração do governo de cada procônsul
era de um ano. Os procônsuls que governariam com Vespasiano ainda
não tinham assumido o poder. E seriam estes que atacariam Jerusalém
sob a autoridade de Vespasiano:
“E os dez chifres que viste, e a besta, estes odiarão a prostituta
e a tornarão desolada e nua, e comerão as suas carnes, e
a queimarão no fogo”. (Apocalipse 17.16)
Fonte: www.resistireconstruir.wordpress.com
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