Por Mareclo Dutra
Todas as denominações evangélicas surgiram a partir do ideal de algum cristão consagrado. Com o Exército de Salvação - organização religiosa e filantrópica - não poderia ser diferente. Sua história começa em 1864, quando William Booth (1829-1912), cristão metodista Wesleyano, criou, juntamente com a esposa, Catherine Mumford, a Missão Cristă, em Londres, Inglaterra. O casal, então, a partir desse passo, iniciou o que seria denominado de movimento salvacionista, com base na filantropia e na pregação do Evangelho. A entidade era uma espécie de ONG (organização năo-governamental) que se dispunha a ajudar os miseráveis, os quais, naquele tempo, proliferavam no império britânico por causa dos efeitos da Revolução Industrial, que deixou multidões sem emprego e perspectiva.
Após uma infância e juventude pobres, Booth e sua esposa se sentiram tocados pelo sofrimento daquela população e decidiram dedicar a vida a apoiá-los. Ex-prisioneiros, mulheres perdidas, moradores de rua e alcoólatras foram os primeiros a experimentar esse amor e, ao mesmo tempo, receber a Palavra de Deus. Só em 1878, nasceu o Exército da Salvação com uma estrutura de comando paramilitar.
Caldeirão de ofertas - O nome escolhido - Exército da Salvação - justifica-se. Na época, o império britânico estava em guerra com a Rússia. Por isso, os missionários da igreja utilizavam em seu discurso evangelístico temas e linguagem militares - com base na idéia de que o exército de Deus está sempre em guerra contra as potestades do mal. A idéia deu certo. Booth se intitulou general e se dedicou, incansavelmente, ao desenvolvimento de sua organização, que, a partir de 1880, propagou-se por todo o mundo. Surgiram, então, naquela mesma época, as bandas de música e o caldeirão para colocar ofertas, coisas que ficaram marcadas na história dessa denominação e, até hoje, fazem parte da sua liturgia.
O Exército de Salvação possui uma estrutura eclesiástica distinta das demais, tem como base as patentes militares e, atualmente, pode ser encontrado em 103 países. Seus 25.400 oficiais são auxiliados por mais de 1 milhão de soldados. A entidade administra escolas, hospitais, clínicas, albergues, lares para crianças e idosos, creches e centros comunitários.
Se estivessem vivos para ver o crescimento espantoso da organização, Booth e a esposa ficariam extasiados. O Exército da Salvação dos dias atuais é fruto do empenho dos salvacionistas do século 19, os quais sofreram muito para manter o trabalho. Muitos foram derrubados ao chão, pisoteados ou brutalmente agredidos; alguns que, como Booth, pregavam a Palavra e as boas obras foram presos. No entanto, Booth e os demais salvacionistas perseveraram, pregando nas ruas, em portas de bares, tendas de lona, cinemas e teatros. O grupo que marchava pelas ruas de Londres logo começou a ser conhecido como os Soldados de Jesus e fundamentava seu discurso na luta contra o pecado e a degradação humana.
Uniformes - Surgiram, então, os uniformes, a bandeira e as insígnias, imitando a postura militar. Em dez anos, a entidade cresceu e alcançou toda a Inglaterra: Deus recebeu tudo o que havia em mim. Há homens com inteligência maior que a minha, homens com mais oportunidades do que eu, mas, a partir do dia em que coloquei os pobres de Londres em meu coração e tive uma visão daquilo que Jesus Cristo poderia fazer pelos pobres de Londres, decidi que Deus teria tudo o que havia de William Booth, comentou o fundador do Exército da Salvação, algum tempo depois.
Um dos segredos do sucesso de seu ministério era o fato de que a entidade estava sempre presente quando necessária. Para tanto, o patriarca envolveu a família na batalha contra o sofrimento. Sua mulher, Catherine, contribuiu para a obra com sermões e numerosos escritos. O filho, William Bramwell, sucedeu o pai como general. A filha, Evangeline, foi fervorosa apóstola da organização e, com apenas 18 anos, já realizava a sua obra no East End, bairro muito pobre de Londres. Realmente, Evangeline teve de vestir uma farda militar quando organizou postos de acolhida no front francês durante a Primeira Guerra Mundial. Depois de passar por todos os graus do Exército da Salvação, Evangeline chegou ao generalato em 1934. Nada mal para uma mulher em uma época em que sequer lhe era concedido o direito de votar.
Exército no país - No Brasil, o Exército da Salvação começou a operar em 1922, por intermédio dos coronéis David e Stella Miche, que se instalaram no Rio de Janeiro em um período em que já não havia mais perseguição aos cristãos; pelo contrário, a entidade foi aceita, reconhecida e apoiada pelas autoridades brasileiras.
A obra foi implantada na cidade do Rio de Janeiro e, posteriormente, em Niterói (RJ), ainda em 1922. Em 1924, o Exército da Salvação ampliou sua presença para São Paulo e, a partir dessa sede, criou bases em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Só em 1968, foi iniciada a obra da organização em Brasília. Na década de 80, o Exército, finalmente, cercou o país de Norte a Sul, fincando sua bandeira no Nordeste, particularmente, nos estados de Pernambuco e Paraíba.
O coronel William John Jones, que preside a denominação no país, afirma que a igreja dá ênfase às boas obras, pois elas são demonstrações de amor: "Não temos a menor dúvida de que foi o sacrifício de Jesus na cruz que nos deu a salvação. Portanto, Cristo não ficou só nas palavras e nos ensinamentos; Ele pagou o preço por amor a nos. Cremos que devemos seguir Seu exemplo e não ficar, simplesmente, no discurso. Há muitas pessoas que precisam de ação, do nosso esforço e empenho", explica ele. Jones trabalha na sede nacional da instituição, oficialmente denominada "Assistência e Promoção Social Exército de Salvação", localizada no bairro do Jabaquara, em São Paulo.
William Jones conta que a igreja tem cerca de cinco mil soldados no Brasil e outros 143 oficiais, dentre eles, os pastores das 45 igrejas da denominação no país.
O Exército da Salvação tem uma peculiaridade: para um soldado tornar-se oficial, ele deve, por um período de dois anos, cursar com a esposa, o Colégio dos Cadetes em São Paulo, uma espécie de seminário. Quando concluem o curso, marido e mulher galgam, juntos, os postos de comando: tenente, capitão e assim por diante. O cargo de general, ocupado atualmente pelo inglês John Gowans em Londres, é único.
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